Feriado ameaça aumentar índice de abstenção no segundo turno do Rio
Como se não bastasse o recorde de 1,8 milhão de eleitores, 38% do total, que deixaram de votar ou preferiram não escolher um dos candidatos no Rio, os índices de abstenção e votos em branco e nulos, na avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, devem ser ainda maiores no segundo turno. Um fator que pode prejudicar o comparecimento é o feriado do Dia do Servidor Público, na sexta-feira que antecede o pleito, e que pode incentivar o deslocamento de parte dos moradores da cidade para longe de suas zonas eleitorais.
A possibilidade de as abstenções aumentarem significativamente no segundo turno preocupa os dois candidatos, que terão como desafio adicional fazer o eleitor comparecer às urnas. Marcelo Freixo, do PSOL, diz que busca dialogar com o “eleitor de ninguém, que venceu a eleição no primeiro turno” como estratégia para estimular o voto. Para o candidato do PRB, Marcelo Crivella, o grande medo dos políticos hoje é justamente a abstenção, “fruto do desalento” explicado por ele pelo “caleidoscópio de escândalos que virou a política”. — Um feriado desse tipo empurra as pessoas para viajar. A questão é que a abstenção aumenta em todas as áreas, também naquelas em que a renda é menor, onde a população é maior em números absolutos. Nesse sentido, o feriado prejudica mais o Crivella, que tem mais força nessas regiões, do que o Freixo — avalia o cientista político e professor da UFRJ Jairo Nicolau. O último pleito municipal em que houve segundo turno no Rio ocorreu em 2008, quando o atual prefeito Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) concorreram ao cargo. Na época, o feriado, transferido de terça para quinta-feira por decreto do então governador Sérgio Cabral, também antecedeu o domingo de eleição. Naquele ano, o Rio registrou alto índice de abstenção: 927.500 eleitores, ou 20,5% do total, número superior à média nacional e o maior entre as capitais brasileiras. O professor da PUC-Rio Antonio Alkmim também vê possibilidade de o feriado aumentar a abstenção na cidade, mas minimiza seu efeito sobre a decisão nas urnas. — É um indicador indeterminado, mas pelas manchas é mais presente na Zona Sul. Essa é uma eleição atípica, porque a abstenção significou protesto e pode aumentar por conta disso — diz Alkmim. Natália Maciel, da FGV Rio, chama atenção para a possibilidade de o voto em branco atingir patamares ainda maiores do que no primeiro turno, pela dificuldade do eleitor que escolheu outro candidato decidir, agora, em quem votar. — A incógnita é como vai se comportar o eleitor do Pedro Paulo, que é mais moderado. Freixo e Crivella ainda não tiveram cargo majoritário e seus partidos não estão no cenário nacional com muita projeção. O eleitor, que costuma tender para o mediano, vai ter que se basear nas propostas de dois candidatos que estão em posições contrárias. A expectativa de aumento dos votos brancos e nulos também é esperada por Paulo Baía, da UFRJ: — Há uma tendência de alta dos votos em branco e nulos, mas a abstenção pode ficar no mesmo patamar, porque é mais difícil de identificar suas razões. O feriado é mais restrito. A cidade tem um peso considerável de servidores, mas eles compõem uma minoria. Fonte: O Globo |