Dentro da bolha: campanha nas redes esbarra em filtros ideológicos
Em 2011, o livro O filtro invisível, de Eli Pariser, se tornou best seller nos EUA por mostrar como os algoritmos do Facebook e do Google refletiam no conteúdo visto por internautas em seus feeds informações que chegam aos usuários a partir de seu comportamento na rede ou como resultados de busca. Segundo a lógica de Pariser, as publicações apresentadas aos usuários das redes sociais estavam cada vez mais sendo direcionadas a eles de acordo com os interesses de cada um. Com relação a postagens políticas, por exemplo, o feed do Facebook estaria deixando de fora links e posts que tivessem viés ideológico diferente dos que os usuários, por meio de cliques em links e curtidas em postagens, demonstravam apoiar.
De olho na "bolha ideológica", análises de pesquisadores de mídia indicam que essa nova associação por pensamentos parecidos torne a campanha eleitoral um pouco mais complicada para atingir um potencial eleitorado que não é o seu. O diretor da empresa de monitoramento Medialogue, Alexandre Secco, acredita que as pessoas, de maneira geral, acabam se refugiando em grupos que pensam igual a elas.
Divergir é uma atitude muito perigosa principalmente nas redes sociais, então a maior parte das pessoas procura se refugiar entre quem pensa igual a elas. Quando aparece um candidato, elas fazem a mesma coisa. O candidato distribui as propostas dele em uma rede em que o fator definitivo é essa autorreferenciação afirma Secco.
ALGORITMO COMO BARREIRA
Juliano Borges, professor de Comunicação do Ibmec e pesquisador de novas mídias, alerta que a barreira tecnológica impede uma mensuração exata, por parte da campanha, de quem está sendo o público receptor da mensagem.
A gente sabe que nem todo mundo que curte aquela página vai receber a informação. É diferente da televisão. Isso dá uma margem de imprevisibilidade quanto à eficiência das campanhas afirmou o pesquisador.
Jornalista e pesquisadora, Raquel Recuero é uma das coordenadoras do projeto "Monitor das Eleições", que este ano coleta dados sobre a participação nas redes de candidatos à prefeitura de Pelotas e de Porto Alegre, ambas no Rio Grande do Sul. Ela também destaca a questão dos algoritmos como barreiras para se chegar a um eleitorado que já não esteja no seu círculo de seguidores.
O grande desafio ainda é não pregar apenas para os convertidos destaca.
Além da barreira algorítmica, Fabro Steibel, professor de Inovação e Novas Tecnologias da ESPM-Rio, chama a atenção para a bolha ideológica que paira sobre as redes sociais.
A bolha do eleitorado que apoia o Freixo, por exemplo, vai receber mensagens favoráveis ao Freixo. Quando ele fala para a TV, fala para quem gosta ou não gosta. Nas redes, você basicamente fala para quem já te segue, ou porque gosta ou porque desgosta de você. Campanha eleitoral não é o momento de falar com os não convertidos, sim com os indecisos pondera.
BOLHA PARA ATIVAR MILITÂNCIA
Vinicius Wu, pesquisador da PUC-Rio, reitera que a mudança no algoritmo do Facebook tem dificultado a interação dos candidatos para além dos convertidos. Entretanto, alguns deles usam a própria bolha para ecoar o discurso de campanha.
Entre os destaques no Rio, Wu cita Freixo, Jandira e Flávio Bolsonaro. Dos oito candidatos à frente das intenções de votos, estes três apresentam maior relevância em termos de engajamento, ou seja, número de reações, comentários e compartilhamentos. Marcelo Crivella, apesar de ter a maior rede em número de seguidores, tem um número proporcionalmente pequeno de interações.
Ricardo Ismael, professor e cientista político da PUC-Rio, alerta por sua vez que as redes acabam servindo mais como forma de desconstruir adversários do que como plataforma para expor projetos alternativos de cidade.
É muito difícil uma construção de discurso pela maneira fragmentada como funciona a rede analisa Ismael.