Sem salários, servidoras aposentadas do Estado voltam a trabalhar para sobreviver

Merendeira aposentada, Margarida da Silva, de 74 anos, teve de se reinventar para sobreviver à crise do estado. Com os cerca de R$ 1.100 de benefício sendo pagos com atraso e ainda assim parcelados — na semana passada recebeu R$ 550, relativos a maio —, o jeito foi pegar na linha e agulha e transformar, com sua habilidade manual, pedaços de tecidos em panos de prato. Com a venda no boca a boca e somente para a vizinhança no Éden, na Baixada Fluminense, consegue tirar, em média, R$ 200, por mês.

— É com esse dinheiro que pago as minhas contas. Queria vender na rua, para aumentar meu ganho, mas para isso preciso de licença, mas não t enho como pagar por ela — se queixou a idosa, que vive em companhia de um filho, que está desempregado.

Com a despensa vazia — o arroz acabou ontem — foi com o neto de 12 anos, que também mora com ela, à sede do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe), no Centro do Rio, buscar a cesta básica que vai garantir a alimentação da família nos próximos dias.

—Nunca pensei que fosse passar por essa situação. Me aposentei depois de 32 anos dedicados ao estado — lamentou.

Outra que também teve de buscar nos bicos uma fonte de renda extra para substituir o benefício, sempre em atraso e parcelado, é a servente aposentada Fátima Dias, de 63 anos, também do Éden. Ela faz cocadas que oferece de porta em porta aos vizinhos. Com isso consegue arrecadar cerca de R$ 20, por dia.

— O lucro é pequeno, porque tenho de reinvestir na compra dos ingredientes, mas é o que ajuda a me manter. Às vezes, a coisa aperta e sou obrigada a deixar de comer para pagar as contas. É triste depender da ajuda dos outros —reclamou.

Para buscar a cesta básica distribuída pelo Sepe, gastou R$ 20 nos deslocamentos de ida e volta de ônibus e trem. Sua aposentadoria é de R$ 1.050, mas esse mês só recebeu R$ 550, quase todo gasto em remédios.

Sem a mesma habilidade de Margarida e Fátima, o inspetor de alunos aposentado Ariel Vieira Soares, de 61 anos, diz que sua vida vai de mal a pior. Afogado em dividas viu o nome ser negativado no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Seu benefício é de R$ 1.400, mas esse mês só recebeu R$ 550, depositados na semana passada.

— Sorte que moro em casa própria,senão estaria debaixo da ponte. Durante 38 anos a repartição foi a minha vida. É uma humilhação para o servidor público depender da boa vontade alheia. Isso (as cestas básicas) deveriam estar sendo destinadas a quem não tem emprego ou nenhuma fonte de remuneração, o que não é o nosso caso — disse o morador da Vila Kennedy, na Zona Oeste.

 

Fonte: Extra

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