Programa público de atendimento a usuários de crack está parado no Rio

A grave crise econômica que afeta o estado e, mais recentemente o município do Rio, apresenta reflexos nas políticas de assistência aos viciados em crack. Em 2012, para frear a escalada no consumo da droga na capital fluminense, principalmente no Morro Santo Amaro, no Catete, na Zona Sul da cidade, os governos federal, estadual e municipal davam início a um projeto orçado em R$ 10 milhões que pretendia combater a cracolândia carioca e ressocializar os viciados. Porém, cinco anos depois, nada sobrou do programa “Crack, é possível vencer”.

Além do abandono do projeto no Rio, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) - que presta assistência e atendimento ambulatorial a dependentes químicos-, sofre com a crise vivenciada pela universidade, e, de acordo com a própria diretora do núcleo, Ivone Ponczek, está com os salários atrasados desde abril.

Lançado em 2011 pela então presidente Dilma Rousseff para combater o consumo de crack em cidades com mais de 200 mil habitantes, o “Crack, é possível vencer” acabou nunca atingindo seus objetivos. Ônibus que deveriam ser usados para monitorar o tráfico, o consumo da droga e que seriam postos em funcionamento pela prefeitura do Rio e de outros municípios, acabaram chegando às cidades sem equipamentos importantes, como câmeras e programas de computador para gravar as imagens.

No convênio, também estavam previstas a criação de centros de atenção psicossocial, unidades nos moldes da Casa Viva, projeto de alfabetização de crianças e pais, e a formação de equipes especializadas, com psicólogos, assistentes sociais e pedagogos, que acompanhariam o tratamento de usuários. O Nepad, por exemplo, assumiria a função de coordenar os grupos que acompanhariam os dependentes químicos, para garantir que, após o período de desintoxicação, pessoas beneficiadas pelo programa fossem encaminhadas às suas respectivas famílias ou a famílias acolhedoras. No entanto, o projeto, tido como inovador no Brasil à época, nunca se concretizou. Para piorar, a crise no estado afetou o funcionamento do Nepad, um dos principais centros de assistência a dependentes químicos de todo o estado.

A consequência disso é a diminuição do período de funcionamento do núcleo. Com os funcionários se revezando enquanto não voltam a receber em dia, o atendimento ambulatorial tem funcionado somente em dois dias da semana. Ivone não esconde reprovação ao cenário desolador, e critica o abandono ao Nepad.

— A situação no Nepad nunca foi tão crítica quanto agora. Os funcionários fazem o melhor que podem, mas é impossível funcionarmos como antes diante dessa crise que afeta a toda a Uerj desde o ano passado. Falta todo tipo de recurso para que possamos funcionar como gostaríamos — lamenta a diretora.

Ivone também relata que, mesmo antes da crise do estado, as iniciativas do poder público para a recuperação e atendimento de dependentes químicos sempre foram irregulares e com pouco tempo de duração:

— Eu nem me lembro especificamente desse projeto no Santo Amaro, mas certamente não foi algo que durou. O Nepad sempre participou de projetos do poder público voltados para a recuperação de dependentes químicos, mas nunca vi, em todos esses anos, uma iniciativa do governo estadual ou da prefeitura que tivesse o poder transformar a vida dessas pessoas.

Em 2012, um levantamento da então Secretaria municipal de Assistência Social revelava que havia na cidade do Rio pelo menos 11 cracolândias e seis pontos itinerantes do consumo da droga, com cerca de 3 mil usuários, sendo 20% deles menores de idade. Mensalmente, eram gastos cerca de R$ 2 milhões no acolhimento e tratamento de dependentes químicos. No plano original, o município receberia R$ 40 milhões por ano, que seriam gasto em ações nas maiores cracolândias cariocas, como Jacarezinho, Manguinhos e Morro do Cajueiro, em Madureira. Cinco anos depois, contudo, nada parece ter saído do papel. Sem projetos específicos para o tratamento e recuperação de dependentes químicos, sejam por iniciativa própria ou por meio de parcerias com o governo federal, o município hoje tem pouco a oferecer para enfrentar efetivamente o problema.

A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos da prefeitura diz, por meio de sua assessoria de imprensa, que o único projeto voltado a atender pessoas em condições de vulnerabilidade administrado pelo município hoje é voltado para moradores de rua em geral, sem um foco específico em viciados em crack ou outros tipos de droga. Na prática, os moradores são abordados nas ruas por agentes do município para serem encaminhados a abrigos. A maioria, no entanto, preferem permanecer nas ruas. Na esfera estadual, a situação é ainda mais crítica. Dependente de verbas do estado para funcionar, o Nepad tem pouco a oferecer para ajudar dependentes químicos hoje.

— Temos trabalhado no sistema de rodízio e atendido somente os dependentes químicos em estado mais grave. Estamos totalmente desassistidos e desprovidos de pessoal para funcionar como gostaríamos — desabafa Ivone Ponczek.

 

Fonte: O Globo

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