Moradores usam as redes sociais no combate ao aumento da criminalidade

Preocupados com o aumento da violência — que, segundo dados divulgados em abril pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), voltou aos patamares anteriores às UPPs — milhares de moradores da Zona Sul estão usando as redes sociais para buscar soluções e cobrar as autoridades. O grupo do Facebook mais popular na região destinado ao tema, o “Relatos de assaltos, violência em Laranjeiras, Flamengo e proximidades”, tem cerca de 30 mil integrantes e inclui até um agente do 2º Batalhão de Polícia Militar (BPM) entre os moderadores.

Na semana passada, o grupo promoveu o primeiro fórum, no auditório do Centro Universitário Univeritas, no Flamengo. Aberto à população, o evento reuniu integrantes da prefeitura e da polícia para discutir o papel das autoridades e da população no combate à violência urbana.

Segundo a idealizadora do grupo, Bebel Costa, essa foi a primeira de uma série de atividades presenciais.

— Nossa missão é diminuir as distâncias e estreitar relações entre sociedade e autoridades, criando oportunidades de relacionamento e debate sadio. Já estamos em reuniões para definirmos as pautas do próximo encontro — diz Bebel.

INTEGRAÇÃO ENTRE OS MORADORES

O grupo de Facebook “Relatos de assaltos, violência em Laranjeiras, Flamengo e proximidades” foi criado em abril de 2015 pela moradora de Laranjeiras Bebel Costa com intuito de reunir informes sobre casos de criminalidade na região. Em pouco tempo, agentes do 2º Batalhão de Polícia Militar (BPM), responsável pela segurança na região, passou a interagir com os internautas e a trocar informações.

— O grupo serve para reunir dados e conscientizar a população. Uma das nossas campanhas é para que todos façam o registro de ocorrência, pois sem isso a polícia não consegue trabalhar e as estatísticas ficam defasadas. Muita gente ainda é assaltada e acha que não vai adiantar nada ir à delegacia. Então, deixa para lá. Isso é ruim para todos — diz Bebel.

Segundo ela, a ideia agora é fazer com que a iniciativa saia do mundo virtual e se torne uma mobilização presencial, com a realização de mais fóruns, palestras e atividades educativas diversas. De acordo com moradores, uma das postagens mais marcantes no grupo foi a que relatou a morte do estudante Miguel Zahkour durante uma tentativa de assalto em Laranjeiras, em abril.

— Começou com a postagem de um morador dizendo que tinha ouvido barulho de tiros. Depois, passaram a falar do assassinato. Descobrimos que era um jovem que muitos conheciam desde criança. Foi uma comoção geral — conta a administradora.

Outro caso marcante foi a de um morador de rua do Catete, encontrado pela família graças a uma campanha que contou com a participação de integrantes do grupo.

— Também apoiamos outras causas da comunidade, como animais perdidos. Nosso intuito é ser sempre uma ferramenta de utilidade social — afirma Monica Santana, outra moderadora.

O “Relatos de assaltos, violência em Laranjeiras, Flamengo e proximidades” conta também com a moderação do capitão da Polícia Militar Rafael Teixeira, que atua no 2º BPM. Ele diz não ter conhecimento de uma experiência deste tipo — com relação tão próxima entre a polícia e a população — em nenhuma outra área da cidade.

— A interação é fundamental porque ela quebra alguns paradigmas e desmistifica o trabalho do policial. Embora existam os canais oficiais de comunicação com a Polícia Militar (PM), não podemos desperdiçar as novas ferramentas. O grupo funciona muito bem para aproximação das forças do estado com a população — comenta Teixeira.

O policial também é administrador em outro perfil do Facebook que aborda a temática da criminalidade na Zona Sul, chamado “Relatos de assaltos e violências em Botafogo, Urca, Humaitá e proximidades”.

Criado em junho do ano passado, o grupo reúne 18 mil integrantes. De acordo com uma das administradoras, Regina Chiaradia, presidente da Associação de Moradores e Amigos de Botafogo (AMAB), a ferramenta é útil quando usada com consciência, mas requer moderação intensa e, muitas vezes, cansativa, para evitar alguns problemas graves.

— Uma coisa que me entristece muito são os comentários de pessoas querendo formar grupos de justiceiros para caçar bandidos por conta própria. Somos totalmente contra. Apagamos os comentários deste tipo para não fomentar o comportamento. O nosso é um grupo sério, que conta, inclusive, com a presença de autoridades — frisa Regina.

Mas, se por um lado, as redes sociais têm sido usadas como um canal de ajuda no combate à violência, por outro ela inspira cuidados. De acordo com Regina, é necessário que os moderadores fiquem atentos à procedência das postagens e ao risco da exposição dos membros do grupo.

— Tivemos um caso marcante recentemente. Uma pessoa postou a foto de um jovem dizendo que ele estava rondado os arredores do seu prédio e que era suspeito. A mãe do jovem era integrante do grupo e, ao ver a postagem, teve um pico de pressão e passou mal. As pessoas não podem expor a foto de alguém por simples suspeita — destaca Regina.

 

Fonte: O Globo

Copyright© 2003 / 2017 - ASFUNRIO
ASFUNRIO - Associação dos Servidores da SMDS e Fundo Rio
Visualização Mínima 800x600 melhor visualizado em 1024 x 768
Gerenciado e Atualizado: Leonardo Lopes