Fiscalização revela problemas de acessibilidade para cadeirantes em ônibus

Uma fiscalização realizada, na manhã desta segunda-feira (11/09), mostrou a dura rotina enfrentada por cadeirantes que usam o transporte público para se locomover pela cidade. Entre 9h30 e 12h15, nove ônibus de linhas municipais pararam no ponto da Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, ao sinal do vendedor Pedro Luís Barbosa Salles, de 40 anos, que estava acompanhando pela vereadora Luciana Novaes (PT), também cadeirante. Desses, cinco tinham rampa de acessibilidade. No entanto, quatro estavam com problemas.

— Dois motoristas passaram direto quando viram que havia cadeirante no ponto. Entre os ônibus que tinham rampa de acesso funcionando, quatro estavam com as travas que seguram a cadeira quebradas. Eu ainda consigo me segurar na rampa, mas pessoas tetraplégica, não — relata Pedro Luís.

Outro obstáculo encontrado na fiscalização foi o desnível entre as calçadas altas da cidade e as rampas de ônibus novos.

— Nesses veículos novos, os elevadores só funcionam com calçadas bem baixas e, no Rio, a maioria das calçadas é alta, como na Avenida Presidente Vargas. Nesses casos, preciso ir para a pista, fora da calçada, para poder acessar a rampa. É um risco — reconhece o vendedor, que mora em Imbariê, Duque de Caxias, e pega ônibus diariamente para ir trabalhar no Largo da Carioca, no Centro do Rio.

Nessas viagens, Pedro Luís conta que já passou maus momentos, sendo humilhado ou deixado para trás.

— Quando estou sozinho no ponto, os motoristas não param, porque não querem ter trabalho de descer do carro e ajudar. Já ouvi de um motorista que eu era um inválido e devia ficar em casa, porque ele não era obrigado a ajudar. Nesse dia, o elevador estava quebrado e eu desci me arrastando, puxando a cadeira, parar provar que eu não precisava da ajuda dele. É um sofrimento tremendo, mas tenho certeza de que dias melhores virão. Preciso trabalhar — conta Pedro Luís, que teve poliomielite (paralisia infantil) aos 3 anos de idade.

Relatório após fiscalizações

De acordo com a vereadora Luciana Novaes, a fiscalização desta segunda-feira faz parte de um ciclo de vistorias nos transportes públicos.

— Há cerca de três meses, fiscalizamos a acessibilidade nos trens da Supervia. Há um mês e meio, as garagens de ônibus. Como nas garagens identificamos uma maquiagem nítida, resolvemos, diante das denúncias que recebemos, fiscalizar as dificuldades práticas dos cadeirantes no dia a dia — diz Luciana.

A vereadora listou os problemas verificados: ônibus não pararam quando avistaram um cadeirante fazendo sinal; ônibus com equipamentos quebrados e em péssimo estado de conservação; motoristas sem treinamento para lidar com cadeirantes. O resultado das fiscalizações resultará em um relatório que será encaminhado à Secretaria Municipal de Transporte, ao prefeito Marcelo Crivella, ao Procon e ao Mistério Público, cobrando providências imediatas.

— Infelizmente, temos muitas leis que não são cumpridas. Por isso, tenho feito muitas fiscalizações. O acesso ao transporte público é algo fundamental. Cobrar que ele funcione, é um dever de todos nós — diz a vereadora, cujo pai era motorista de ônibus.

A assistente social Luciana Novaes, então com 19 anos, ficou tetraplégica ao ser baleada no campus da Universidade Estácio de Sá, no Rio Comprido (Zona Norte do Rio), em 2003. Luciana estudava enfermagem e foi atingida por um tiro disparado por traficantes do Morro do Turano no dia 5 de maio daquele ano.

Rio Ônibus afirma que 95% da frota têm acesso a cadeirantes

O Rio Ônibus informou que toda a frota cumpre com a legislação de acessibilidade vigente e 95% dos ônibus que circulam na cidade contam com plataformas elevatórias para cadeirantes (o restante está sendo substituído).

“Todos os rodoviários passam por treinamento para atender passageiros cadeirantes, com deficiência ou mobilidade reduzida (como idosos, gestantes e pessoas com obesidade). O treinamento é realizado pelas empresas, com apoio da Universidade Corporativa do Transporte (UCT), seja no momento de sua contratação ou nos programas contínuos de capacitação”, afirmou, em nota.

Sobre os casos citados pela reportagem, o Rio Ônibus pediu desculpas aos passageiros pelos transtornos e informou que aguarda dados dos ônibus e das linhas para solicitar às empresas os reparos necessários.

 

Fonte: Extra

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