Escola no Jacaré é uma das 15 melhores da rede municipal

A distância da Escola municipal Rio de Janeiro para a boca de fumo mais próxima da comunidade do Jacaré é de aproximadamente 100 metros. A realidade dos alunos é, do lado de fora, igual a de qualquer outra criança que vive em área conflagrada: ocupação e revistas policiais, noites de tiroteio, medo de balas perdidas. Mas, dentro dos muros do colégio, a brutalidade se transforma. A unidade tem uma das 15 maiores notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da rede municipal. Este ano, a escola teve seu funcionamento interrompido por 11 dias seguidos devido a operações policiais na região do Jacarezinho, no mês passado.

Agora, é uma das 17 escolas no entorno da comunidade que recebem, desde esta segunda-feira, um trabalho para tentar repor as aulas dos dias perdidas.

O desempenho alto é fruto de processos pedagógicos adotados pela direção. A nota do Ideb de 2015, última divulgada, é 5,8 contra a média de 4,3 da rede municipal.

— Nós damos amor e carinho, mas também recebemos deles (alunos). É o que faz a escola ter boas notas — diz Flávia Rezek, diretora da unidade.

A primeira semana de aulas sempre é de boas-vindas — com palestras, inclusive, de alunos mais velhos contando o que os novatos podem esperar. A unidade funciona em horário estendido (de 7h30m às 14h30m), o que possibilita a inclusão de disciplinas eletivas na grade de horário. São os próprios estudantes que escolhem o que a escola poderia oferecer. E os professores se voluntariam a dar aulas extras: a de inglês, por exemplo, ensina dança e a de matemática dá aula de concurso — projeto para preparar estudantes da unidade para provas de colégios federais ou particulares com bolsa de estudo.

Uma preocupação da diretora Flávia é o destino dos alunos no ensino médio. Por isso, foi criado o Núcleo de Apoio ao Candidato, que indica concursos para os estudantes, escolas em que eles podem obter bolsa de estudo e também auxilia os formados a fazerem matrícula em colégios estaduais.

— Eles tinham dificuldade de saber para onde ir depois da formatura. Eu já começo o ano dizendo que eles precisam tirar o CPF para fazer essas inscrições — conta a diretora.

A Escola Municipal Rio de Janeiro oferece do 7º ao 9º ano. No ano passado, eram 296 estudantes matriculados. O pequeno número de vagas, no entanto, é um terror para os moradores do Jacaré — é comum, em época de matrícula, que pais e mães durmam na porta da unidade para obter uma vaga.

— É muito trabalho, e um trabalho muito árduo. Eu negocio com meu aluno diariamente. Trabalhamos da forma que eles querem para motivá-los. E a família também vem com a gente e nos ajuda demais — conta a diretora.

GRUPO DE REFORÇO SEGUIRÁ PARA A CIDADE DE DEUS

O secretário municipal de Educação, Cesar Benjamin, informou que o grupo de reforço pedagógico que começou o trabalho no Jacarezinho nesta segunda-feira já tem a próxima missão definida: a Cidade de Deus. De acordo com Benjamin, o trabalho segue até o fim do ano de forma concomitante em diferentes espaços da cidade.

— Nós temos um controle de desempenho individual por aluno. Sabemos quais são os que precisam de reforço individual. Essa equipe trabalha junto com os alunos e analisa caso a caso. Se houver necessidade, entram em ação os psicólogos e assistentes sociais — afirmou o secretário.

O grupo de apoio pedagógico estará particularmente voltado para o ensino de língua portuguesa e matemática, tendo como prioridade os alunos do 5º e do 9º ano. O programa de reforço planejado pela secretaria para as escolas do Jacarezinho também prevê apoio pedagógico da Gerência de Educação Infantil a oito unidades que atendem creche e pré-escola na região.

Os estudantes do 3º ano desses 17 colégios do Jacarezinho serão atendidos pelo programa de reforço escolar da prefeitura, criado a partir de um levantamento que encontrou 12.417 crianças do 3º ano com alfabetização considerada insuficiente na rede. No ano passado, eram 55 mil alunos no 3º ano da rede. Para a tarefa, está sendo montado um time de cerca de mil professores alfabetizadores para a rede inteira.

O 3º ano é considerado o último em que um aluno deve ser plenamente alfabetizado. Porém, é nesse momento em que aparecem as maiores dificuldades — fazendo com que a taxa de reprovação da rede municipal de educação tenha chegado, em 2016, a 11,4%, a mais alta do ensino fundamental na cidade.

Tirando a Escola Municipal Rio de Janeiro, as outras unidades do Jacarezinho mostram fragilidade no desempenho. Todas as notas estão abaixo da média da rede.

 

Fonte: O Globo

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