'Casa de Doido', codinome para o TCE-RJ, teria cobrado R$ 4 milhões para arquivar ação sobre linha 4 do metrô

As empresas que formavam o consórcio responsável pela construção da linha 4 do metrô do Rio teriam pago R$ 4 milhões de reais em propina a conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), em troca do arquivamento do relatório de uma auditoria, que apontava problemas no orçamento da obra. Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), o ex-executivo da Odebrecht Marcos Vidigal afirma que o pedido de propina foi feito no início de 2014 pelo advogado Giorgio Oliboni, assessor do então presidente do TCE, Jonas Lopes de Carvalho. Os pagamentos ao TCE eram feitos com o codinome “Casa de Doido”, no sistema do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.

As obras da linha 4 do metrô custaram mais de R$ 10 bilhões, o dobro do previsto inicialmente, e foram entregues com sete meses de atraso.

Vidigal diz que foi procurado por Giorgio Oliboni no início de 2014 e que participou de uma reunião no escritório dele, no centro do Rio.

"A gente havia sofrido, no final de 2013, uma auditoria do Tribunal de Contas. Tinha um relatório, que eles chamam de relatório de achados, com vários apontamentos relativos ao orçamento da obra. (...) Nesse diálogo com o Giorgio, ele falou que poderia dar celeridade ao arquivamento desse processo. Nesse diálogo, ele falou que precisava que tivesse uma propina de R$ 4 milhões", declarou o executivo.

Num segundo encontro com Oliboni, Vidigal diz ter comunicado a decisão das empresas do consórcio - além da Odebrecht, faziam parte do grupo Queiroz Galvão, Carioca Engenharia, Cowan e Servix - de pagar o valor pedido, mas apenas depois do arquivamento da ação. Oliboni teria solicitado que o pagamento fosse feito da seguinte forma: R$ 3 milhões por caixa dois e R$ 1 milhão como remuneração a contratos fictícios de prestação de serviços de consultoria, firmados pelas empresas do consórcio com o escritório de advocacia dele.

DOAÇÃO AO PASTOR EVERALDO

De acordo com o delator, o assessor da presidência do TCE teria dito que os repasses por caixa dois também poderiam ser feitos pelas empresas como doações de campanha ao Pastor Everaldo, na época candidato à presidência pelo PSC. O secretário-geral do partido, Antonio Oliboni, é pai de Giorgio Oliboni e foi secretário estadual de Justiça no governo Anthony Garotinho, na mesma época em que Jonas Lopes foi nomeado conselheiro do TCE. Vidigal informou que a Odebrecht preferiu não fazer doações ao Pastor Everaldo, mas não soube dizer se alguma empresa do consórcio utilizou esse expediente.

O executivo da Odebrecht relata que a parte da empreiteira na propina foi entregue no escritório de Giorgio Oliboni, na rua Senador Dantas, no centro do Rio, em 2014. Perguntado sobre a participação do conselheiro Jonas Lopes no acordo, Vidigal disse acreditar que ele tinha conhecimento de tudo.

"Em nenhum momento o Oliboni me falou que esse assunto que nós estávamos tratando era de conhecimento do presidente Jonas Lopes. Mas, tendo em vista que tem uma aprovação de um relatório de orçamento, que precisa de votos, eu presumo que seria com o conhecimento dele", disse no depoimento.

Giorgio Oliboni foi exonerado nesta terça-feira pelo TCE-RJ, pela presidente interina Mariana Montebello. O advogado trabalhava no tribunal desde 2003, como assessor de Jonas Lopes, que está licenciado. Lopes firmou acordo de delação premiada e, a partir de seu depoimento, a Polícia Federal realizou a operação “O Quinto do Ouro”, que prendeu cinco conselheiros do TCE, em março .

Porcurados pela reportagem, o TCE-RJ e o Pastor Everaldo ainda não se manifestaram.

 

Fonte: O Globo

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