Secretário de Educação deixa a prefeitura e critica titular da Casa Civil: 'Espertalhão'

O secretário municipal de Educação do Rio, Cesar Benjamin, deixou a gestão de Marcelo Crivella. Em uma postagem feita em uma rede social, ele criticou abertamente o titular da Casa Civil, Paulo Messina, a quem chamou de "Napoleão de hospício". Benjamin afirmou na manhã desta sexta-feira que a Casa Civil, que segundo ele não "consegue conviver com uma secretaria importante que não controla", decidiu "declarar guerra aberta". O ex-secretário de Educação acrescenta que Paulo Messina "tem se dedicado a minar metodicamente" as condições de governança da Secretaria de Educação.

Fontes da prefeitura afirmam que dois pontos recentes geraram atrito entre os dois secretários. O primeiro diz respeito ao programa de reforma em 128 escolas municipais ao custo aproximado de R$ 200 milhões. O objetivo de Benjamin era reformar todas essas unidades de uma só vez, contrariando a RioUrbe que, devido à limitação técnica, orientou a divisão das obras em três etapas Porém, a gota d'água teria sido a realização de 19 contratos emergenciais sem justificativa pela Secretária de Educação, com custos superiores a R$ 200 milhões aos cofres municipais. Entre eles, estão os que motivaram uma ação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) contra a prefeitura do Rio pela contratação de agentes auxiliares de educação, publicado pelo GLOBO nesta semana .

"Por meio de ações e omissões, a Casa Civil, sob o comando de Paulo Messina, tem se dedicado a minar metodicamente as condições de governança da SME, uma instituição excepcionalmente complexa. Por motivos obscuros, lança as bases da desorganização e da instabilidade em uma área estratégica da administração, que está pacificada e dinâmica", afirma Benjamin em um trecho da postagem.

O ex-secretário diz ter uma vida limpa, dedicada "às grandes causas do Brasil". "Não aceito ser destratado por um espertalhão, napoleão de hospício. Educação, para mim, é fim. Para Paulo Messina, é meio. Rende votos. Eis o problema de fundo: a poderosa Casa Civil, uma instância de articulação de todas as instâncias da prefeitura, não pode ser ocupada por alguém cheio de ambições pessoais, que não reconhece limites e quer todo o poder. Não desejo trabalhar em um ambiente contaminado por esperteza, cinismo, espionagem e intriga. Quero distância disso. Nunca, nem mesmo em situações excepcionalmente difíceis, negociei minha honra", criticou Benjamin.

PROBLEMAS ENTRE OS SECRETÁRIOS

Nos bastidores, comenta-se que divergências entre os dois secretários começaram a surgir nas últimas semanas. A Secretaria de Casa Civil promoveu mudanças na gestão da Educação que não tiveram apoio de Benjamin. Recentemente, Cesar Benjamin causou mal estar ao afirmar em uma reunião do conselho de educação que cogitava não cumprir decisões judiciais em relação a vagas em creches. Benajmin argumentou que não havia possibilidade de criar novas matrículas.

Os dois já foram próximos, e Paulo Messina, que chegou a ser cotado para assumir a Secretaria de Educação no início da gestão de Marcelo Crivella, simpatizava com o nome de Cesar Benjamin para o cargo. Mas a relação entre os secretários chegou ao fim com uma nota publicada nesta sexta-feira na coluna "Informe do Dia", do jornalista Paulo Cappelli, no jornal "O Dia". A publicação afirma que Messina cobrou retratação pública do secretário de Educação após Benjamin criticar a Casa Civil alegando que a Educação foi forçada a fazer licitações emergenciais após a Subsecretaria de Assuntos Compartilhados, vinculada à Casa Civil, deixar de realizar licitações.

O temperamento de Cesar Benjamin também causou mal estar na gestão municipal em outras ocasiões. Em mais de uma oportunidade, o ex-secretário de Educação usou as redes sociais para falar de problemas na pasta. Em 2017, por exemplo, reclamou que faltavam recursos para a merenda escolar. Em outro episódio, relatou a falta de professores na rede municipal.

Benjamin também costumava entrar em conflito com o Poder Legislativo. Ao responder críticas feitas pelo vereador Rogério Rocal (PTB) à pasta, o titular da Educação rebateu chamando o parlamentar de Eremildo o idiota, em referência ao personagem criado pelo jornalista Élio Gaspari.

Cesar não foi o único secretário que teve divergências com Messina e deixou o cargo. Quando Messina era líder do governo na Câmara, ele criticou em plenária a entao secretária de Desenvolvimento Social Teresa Bergher (PSDB) por problemas na área. Teresa deixou o cargo em agosto do ano passado por não ter apoiado a proposta de mudar as regras do IPTU e passou de aliada a adversária do prefeito.

- Eu entendo o que o Cesar Benjamin estava passando. Ele sofreu um processo de fritura como eu por causa do contingenciamento de recursos. O processo decisório no governo era muito lento o que dificulta para qualquer gestor tomar decisões - criticou a vereadora tucana. O vereador Paulo Messina assumiu a Secretaria municipal da Casa Civil em janeiro deste ano. A pasta era ocupada interinamente por Ailton Cardoso — devido ao impedimento feito pela Justiça para a nomeação de Marcelo Hodge, filho do prefeito, para o cargo. Desde então, a autonomia do secretário lhe rendeu o apelido de primeiro ministro nos corredores da prefeitura do Rio.

Procurado, o secretário municipal de Casa Civil, Paulo Messina, afirmou que não irá polemizar questões de governo em público.

Em nota, o prefeito Marcelo Crivella lamentou a decisão de Cesar Benjamin de deixar o comando da Secretaria Municipal de Educação e reconheceu a "sua valiosa e inestimável contribuição ao povo do Rio de Janeiro", ao reconhecer feitos do secretário: "Em sua gestão, a prefeitura dobrou o valor destinado às creches conveniadas; convocou professores e agentes de apoio que esperavam ser chamados desde 2014; fez parceria com a Cruz Vermelha, com o objetivo de preparar os profissionais de educação que atuam em áreas de conflito; lançou o programa Orquestra nas Escolas, que beneficiará 80 mil alunos da rede municipal até 2020. Estes são apenas alguns exemplos de sua marcante atuação. Outras iniciativas em curso representarão um salto de qualidade em nossas escolas, entre elas o investimento este ano de R$ 200 milhões na reforma de 128 unidades e a construção de mais 11; e o mutirão com mais de 2 mil alfabetizadores, o que acabará com o analfabetismo funcional entre os nossos alunos". A nota conclui afirmando que "é compromisso do prefeito Marcelo Crivella manter o alto padrão de serviços prestados à população".

TEMPERAMENTO FORTE

O agora ex-secretário de Educação coleciona polêmicas não apenas com outros membros do governo municipal. Em novembro do ano passado, Cesar Benjamin, gerou polêmica nas redes sociais ao publicar um texto sobre sua percepção a respeito do racismo no país. No post, ele escreve que "continua detestando a racialização do Brasil" e que "qualquer idiotice racial prospera". Benjamin cita como exemplo a palestra que a atriz Tais Araujo fez na época em São Paulo, quando ela falou sobre as diferenças entre criar um menino e uma menina, ambos negros, numa sociedade preconceituosa.

"Nossa maior conquista — o conceito de povo brasileiro — desapareceu entre os bem-pensantes. Qualquer idiotice racial prospera. A última delas é uma linda e cheirosa atriz global dizer que as pessoas mudam de calçada quando enxergam o filho dela, que também deve ser lindo e cheiroso. Vocês replicam essa idiotice", escreveu Benjamin. Ele escreveu ainda que "se os brasileiros mudassem de calçada quando vissem uma pessoa morena ou negra, viveriam em eterno ziguezague". Nos comentários, a colunista do GLOBO Flávia Oliveira criticou as palavras do secretário que, segundo ela, remetem ao século XIX. A jornalista escreveu ainda que "impressiona o titular da pasta da Educação ser tão míope sobre o racismo brasileiro".

Cesar Benjamin também não poupou críticas à Polícia Militar durante o seu período como titular da Educação. O ex-secretário, em julho do ano passado, acusou a PM de ter colocado a estudante Vanessa do Santos, de 10 anos, na linha de tiro . Ela morreu após ser atingida por um tiro na cabeça dentro de casa na comunidade de Boca do Mato, no Complexo do Lins de Vasconcelos, na Zona Norte.

 

Fonte: O Globo
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