Caso
da Serrinha: O JONGO SENDO DESTRUÍDO
Olá
Amigos e Amigas,
Depois de se meter na trapalhada de ocupar o espaço
de uma creche no Morro Dona Marta que atendia a 120 crianças
para transforma-la em uma Posto Policial, a política
de "segurança" do Governo do Estado do
Rio de Janeiro, em mais uma de suas atuações
truculentas em comunidades populares, invadiu na manhã
desta última sexta-feira a comunidade da Serrinha
em Madureira.
A operação para prender traficantes, sem qualquer
planejamento como são as recorrentes invasões
de favelas, além de botar a vida dos moradores em
risco, cometeu um crime contra a cultura e as tradições
populares do Rio de Janeiro, uma vez que destruiu móveis,
utensílios e as dependências da Escola de Jongo
do Grupo Cultural Jongo da Serrinha um dos maiores símbolos
da preservação da memória e das tradições
jongueiras - matriz de uma das principais expressões
da cultura popular do Rio - o Samba.
Abaixo segue um artigo escrito pelo Desembargador Siro Darlan,
presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança
e do Adolescente, que dá a idéia do quão
absurda tem sido a atuação da polícia
quando intervém em comunidades populares e do quanto
não há respeito às tradições
de cultura e às intervenções da sociedade
para assegurar à crianças e jovens direitos
e possibilidades que as políticas públicas
deveria mas não dão conta.
Abraços,
Junior Perim
Coordenador Executivo
CRESCER E VIVER
Rua Benedito Hipólito, s/n (Lona de Circo) - Praça
Onze - Cep.: 20.211-130 - Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 3972-1391
E-mail: junior@crescereviver.org.br
SERRINHA, Capital do jongo e do samba.
SIRO DARLAN DE OLIVEIRA
PRESIDENTE DO CONSELHO ESTADUAL DE DEFESA DO DIREITOS DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O Rio de Janeiro está sediando o 3º Congresso
Internacional de Combate às Violências sexuais
contra crianças e adolescentes. E, paralelamente,
a menos de 50 quilômetros do Rio Centro, a polícia
dá mais uma demonstração de despreparo
e desrespeito às populações mais carentes.
Assim como fizeram na ocupação violenta do
Complexo do Alemão, quando deixaram todas as crianças
fora das escolas por mais de 60 dias, acabam de destruir
um dos raros espaços culturais e educacionais existentes
em comunidades empobrecidas, ao atacarem com fúria
e violência a população da Serrinha
sob o pretexto, aplaudidas por alguns desavisados cidadãos,
de combater os comerciantes de drogas, que por incompetência
da policia de fronteiras e falta de políticas públicas,
obrigação dos governos estaduais e municipais.
O Jongo da Serrinha é um dos mais tradicionais grupos
de cultura do país tendo recebido diversos prêmios
por seu trabalho artístico e social. Com 40 anos
de história, o grupo de Madureira foi fundado por
Mestre Darcy e sua mãe, Vovó Maria Joana Rezadeira
que, preocupados com a extinção do jongo na
cidade, transformaram a antiga dança praticada nos
quintais da Serrinha num espetáculo.
O Morro da Serrinha, localizado na zona norte do município
do Rio de Janeiro, é uma comunidade urbana com aproximadamente
5.000 moradores na sua maioria negros. Com cerca de 110
anos de existência, a Serrinha é uma das primeiras
favelas do país, tendo recebido no início
do século passado um enorme contingente de escravos
negros recém-alforriados. Os moradores da Serrinha
constituíram um núcleo religioso e cultural
potencial, visitado não só pelos moradores
das cidades próximas, como também por jornalistas,
artistas e turistas de vários pontos do Estado do
Rio, do Brasil e exterior, interessados em cultura e tradições
afro-brasileiras.
O Jongo é uma herança cultural trazida pelos
negros bantos que vieram da região do Congo-Angola,
na África, para as fazendas de café do Vale
do Paraíba no século 19 que ficou preservado
na região. Graças a uma iniciativa do grupo,
o ritmo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (IPHAN), em 2005, como o primeiro
Bem Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. Ao transformar
a antiga dança de roda num espetáculo, Mestre
Darcy e Vovó Maria inovaram ao introduzir violão
e cavaquinho no jongo e ao ensinar crianças a dançar,
antigamente só permitido aos "cabeça
branca", criando uma nova referência do jongo
na cidade e garantindo sua sobrevivência no contexto
da globalização.
Em sua trajetória de resistência, o Jongo da
Serrinha se transformou em uma das mais genuínas
referências da cultura carioca e vem se apresentando
em diversas cidades do Brasil e exterior divulgando e preservando
o ritmo com espetáculos de alta qualidade.
Em 2000, o grupo criou a ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha
(GCJS) para desenvolver estratégias de preservação
da memória da comunidade Serrinha e do jongo e de
educação e capacitação profissional
para jovens e crianças, através da Escola
de Jongo (EJ). Recebeu diversos prêmios entre eles
o Escola Viva (2007), Cultura Nota Dez (2006), Cultura Viva
(2006), Itaú-Unicef (2007 e 2005), Petrobrás
Rival BR (2002), Orilaxé (2002) e o prêmio
mais importante do Ministério da Cultura, a Medalha
de Ordem ao Mérito Cultural (2003).
A ONG tem, em linhas gerais, duas missões institucionais:
educar crianças e jovens através da arte e
da memória e preservar o jongo como patrimônio
imaterial através da produção cultural,
gerando trabalho e renda.
A Escola de Jongo é o projeto sócio-educativo
do Grupo hoje patrocinado pela Petrobrás, Criança
Esperança e Ministério da Cultura. A Escola
valoriza e fortalece laços familiares, comunitários
e a identidade local, preservando o Patrimônio Imaterial
do jongo criando alternativas de geração de
trabalho e renda. A base pedagógica da Escola de
Jongo é fundamentada na cultura e memória
locais. A Escola de Jongo atende a cerca de 120 crianças
e jovens, diariamente em dois turnos, com aulas de música
(canto e percussão), dança (afro e jongo),
teatro, capoeira angola, cultura popular, leitura e Griôs
(contadores de história).
O GCJS também cria produtos (discos, livros, filmes,
etc), pesquisa, reúne, organiza e produz acervo audiovisual
sobre o jongo, a Serrinha e a cultura popular brasileira
e africana.
Como ONG, está inserido em diversas redes do terceiro
setor e conta com o apoio de vários parceiros institucionais.
Para elaboração de metodologia pedagógica
e planejamento estratégico participa das Redes Social
da Música, Rede Circo Social e Rede de Memória
do Jongo. A instituição conta ainda com o
apoio da Unesco, FASE/SAAP, G.R.E.S. Império Serrano
e artistas entre eles Paulão Sete Cordas, Letícia
Sabatella, Sandra de Sá, Beth Carvalho, Dona Ivone
Lara, Beth Carvalho, Jorge Mautner, Arlindo Cruz, entre
outros.
Pois essa rara escola de cultura e tradição
acaba de ser destruída pela incompetência dos
policiais do Senhor Beltrame que sob pretexto de combater
a violência, usando da mesma, deixou órfãos
crianças e jovens que mesmo tendo sido roubados em
seus direitos fundamentais de cidadania, porque lá
o governo não chega com creches, educação,
saneamento básico, se dedicavam a preservação
de sua cultura e arte, mas tal qual o exército nazista
foram atacados por fuzis e armas pesadas, enquanto se defendiam
com sua chupetas, mamadeiras e o som de seus jongos e instrumentos.
Até quando, Governador, insistirão nessa política
de desrespeito ás crianças do Rio de Janeiro.
Não seria a hora de usar um pouco de respeito e inteligência?
Lana Ramôa
GANGRENA GASOSA
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