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Cesar admite excesso de radar nas ruas

Prefeito exonera funcionários que teriam viajado para os EUA com despesas pagas por firmas que operam aparelhos


Por: Amanda Pinheiro e Mahomed Saigg

Rio - A pouco mais de três semanas do fim da ‘Era Cesar Maia’ — prefeito em três dos últimos quatro mandatos —, ele admitiu ontem que a cidade pode ter um número “exagerado” de pardais e lombadas. O problema, segundo ele, seria fruto do ‘lobby’ de empresas que operam os equipamentos de fiscalização junto a dois servidores do “alto escalão” da Secretaria Municipal de Transportes. Nomeados para cargos comissionados, segundo Cesar eles viajaram para os Estados Unidos com as despesas pagas por essas empresas.

Por determinação do prefeito, os dois servidores foram exonerados dos cargos que ocupavam. Mas, como são servidores concursados, continuam trabalhando no órgão. A Controladoria-Geral do Município está realizando uma auditoria na secretaria para apurar a denúncia. “Segundo toda a secretaria (de Transportes) diz, essa viagem foi paga por essas empresas de lombadas eletrônicas, o que me levou a desconfiar que se tenha exagerado na colocação de pardais em função do ‘lobby’ dessas empresas”, afirmou o prefeito.

Cauteloso, Cesar não divulgou a identidade dos servidores e afirmou que somente a conclusão da auditoria poderá confirmar se houve abuso no número de radares instalados nas ruas da cidade. “A participação desses dirigentes teria sido em facilitar a colocação desse número exagerado de pardais, mas não creio que esse erro seja corrigido ainda na minha gestão, porque essa auditoria é um trabalho cuidadoso”, disse.

À frente da pasta até 30 de outubro, Arolde de Oliveira, que ocupou o cargo por seis anos, afirmou desconhecer qualquer tipo de esquema para favorecer as empresas que operam os mais de 200 aparelhos de fiscalização eletrônica instalados no Rio — e recebe parte do valor arrecadado com as multas. “Nunca soube disso. Agora ele (Cesar) terá que dizer quem são esses funcionários”, cobrou.

REVOGAÇÃO DE ATOS

De acordo com Cesar, as denúncias não têm relação com a decisão de proibir a aplicação de multas entre 22h e 6h, válida há uma semana. Domingo, o prefeito eleito, Eduardo Paes, anunciou que vai revogar todos os últimos atos de Cesar, inclusive a decisão de não multar durante a noite.

Sobre as declarações de Paes, Cesar sugeriu que, em relação aos pardais, o futuro prefeito aguardasse o fim da auditoria que está sendo realizada por técnicos da Controladoria: “No lugar dele eu pensaria duas vezes até para saber quem são esses funcionários”. Em resposta a Cesar, seu sucessor afirmou: “Isso é coisa do governo dele e só ele pode responder. Eu olho de janeiro para a frente”.

Detran pretende acelerar julgamentos

O Detran anunciou ontem a criação de um plano de emergência para acelerar o julgamento dos processos de suspensão e cassação do direito de dirigir dos motoristas infratores. Atualmente existem mais de 70 mil condutores no estado que já ultrapassaram o limite de 20 pontos na carteira de habilitação e continuam dirigindo normalmente. A expectativa é que até junho de 2009 todos os casos já tenham sido analisados e julgados nas Juntas Administrativas de Recursos de Infrações (Jaris).

“Nosso objetivo é dar mais agilidade ao julgamento desses processos. Por isso, vamos dobrar o número de funcionários que atuam no setor, que passará a contar com 24 pessoas”, informou o coordenador do Setor de Julgamento dos Condutores do Detran, Flávio Horta.

“Caso haja necessidade, poderemos providenciar o remanejamento de mais servidores para atender à demanda”, concluiu Horta. Segundo ele, todo mês cerca de dois mil motoristas ultrapassam o limite de pontos permitidos pelo Código de Trânsito Brasileiro.

Desde novembro do ano passado o Detran instaurou 35 mil processos administrativos contra maus condutores. Até agora, 13.011 já foram punidos com a suspensão do direito de dirigir por até um ano.

Na semana passada, o órgão foi duramente criticado pela demora na aplicação de penas a motoristas como o jogador Edmundo. Como O DIA mostrou sexta-feira, só este ano o atacante já acumulou 85 pontos em seu prontuário. A maioria das multas foi por excesso de velocidade.

TRANSIÇÃO EM PÉ-DE-GUERRA

A polêmica em torno dos pardais é mais uma em meio ao clima de guerra que ronda a transição do governo municipal. Após breve período de trégua, Eduardo Paes e Cesar Maia voltaram às trocas de farpas da época da campanha. Ontem, em entrevista à Rádio Band News, Paes questionou o aumento de quase 5% nas passagens de ônibus e a falta de transparência nas finanças da prefeitura.

“É difícil dizer se o aumento é adequado ou não. Vamos fazer no começo do governo que os elementos que compõem a tarifa fiquem claros. No caso de redução no custo dos combustíveis, podemos discutir a alteração das tarifas, podendo até haver redução”, disse Paes.

Em entrevista à Rádio CBN, também ontem, Cesar Maia disse considerar o aumento de R$ 2,10 para R$ 2,20 “corriqueiro e normal”. “O reajuste nas tarifas é anual. Foi inteiramente técnico e abaixo da inflação, um valor aquém do crescimento do óleo diesel”. Segundo a Fetranspor, o diesel ficou 19% mais caro este ano.

O futuro e o atual prefeito têm discordado em diversos assuntos que afetam diretamente a vida da população. Paes reclamou de decisões que oneram os cofres públicos às vésperas da passagem de cargo, como o aumento de benefícios dos servidores, a troca de títulos da Previ-Rio e os valores deixados no caixa da prefeitura. Enquanto o prefeito afirma que deixará R$ 400 milhões além da arrecadação do IPTU para seu sucessor, Paes rebate dizendo não saber que contas o alcaide não quitou e calcula assumir a prefeitura com déficit de R$ 400 milhões. “Ele não sabe fazer conta. Nunca foi bom em Matemática”, provocou Cesar.

À tarde, Paes se reuniu com sete futuros secretários e o superintendente regional da Caixa Econômica Federal, José Domingos Vargas, para tratar de parcerias para projetos de saneamento, construção de 100 mil unidades habitacionais em quatro anos, implementação do corredor viário T5 e revitalização da Zona Portuária e do Centro. “Vamos acelerar a recuperação de casas antigas no Centro. No Porto, a Caixa é dona de vários terrenos.

Para o T5, o financiamento é da ordem de R$ 400 milhões, e no Programa de Arrendamento Residencial os valores são ainda maiores. A Caixa se mostrou muito disponível a participar”, indicou Paes.

 

Fonte: www.odia.com.br

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