Pisos:
reajuste cai para 9%
Governo
recua e retira índice de 13,34%, sob argumento
de que é preciso manter os empregos
Por: Luciene Braga
Rio
- Contrariando expectativas de 1,8 milhão de
trabalhadores, a Secretaria Estadual de Trabalho (Setrab)
anunciou ontem que o índice de reajuste das nove
faixas salariais dos pisos regionais do Rio será
de 9%, e não de 13,34% — percentual fechado
pelo Conselho Estadual de Trabalho e Renda (Ceterj),
formado por empregados, patrões e governo.
A
justificativa para a redução expressiva
do índice que será encaminhado à
Assembléia Legislativa (Alerj) é a necessidade
de preservação dos empregos no estado,
por conta da crise financeira, que estaria afetando
a oferta de vagas nas 56 agências de intermediação
de mão-de-obra. A demanda vem caindo, e as demissões
em Volta Redonda teriam começado.
O
secretário de Trabalho, Ronald Azaro, informou
que recebeu pedido do governador Sérgio Cabral
de elaborar um novo estudo de impacto. “O objetivo
principal é a manutenção do emprego.
Mantivemos a reposição do INPC (IBGE),
de 6,84%, com 2,16% de ganho real, sem a variação
do Produto Interno Bruto”, explicou Azaro, que
enviou ontem a segunda minuta à Casa Civil. A
expectativa é votar o projeto até amanhã,
antes do recesso parlamentar, ou sob convocação
especial.
TRABALHADORES
JÁ COMEÇAM A MOBILIZAR A ALERJ
O
comentário do representante dos empresários
no Ceterj, Natan Schiper, foi profético. Na segunda-feira,
ele afirmou que o governo deveria refletir antes de
enviar a mensagem como estava (reajuste de 13,34%).
O
representante dos trabalhadores, Indalécio Wanderley,
avisou que a bancada está mobilizando deputados
para votar a proposta original, que previa 15,69% de
reajuste linear: “Assim, é melhor acabar
com os pisos. O menor, de R$ 487,50, está R$
22,79 acima do mínimo previsto para o ano que
vem (R$ 464,71). A Petrobras vai fazer mais 22 navios,
com 16 mil empregos diretos. As obras da CSA vão
parar? O Comperj vai parar?”.
Ele
criticou a demora na apresentação da mensagem,
mas afirmou que as centrais vão divulgar os nomes
dos deputados que votarem contra o reajuste.
Corte
de benefícios é criticado
A
idéia do governo de flexibilizar leis trabalhistas
para atenuar os efeitos da crise internacional, conforme
revelou ontem a coluna ‘Informe do DIA’,
é reprovada por sindicatos. Em nota, a Força
Sindical classifica a pressão de “oportunista”:
“Este é o primeiro passo para acabar com
as férias, 13º salário, licença-maternidade,
auxílio-doença, Fundo de Garantia e outros
direitos sociais”.
Numa
tentativa de pressionar empresários a não
promover demissões em massa, a Força Sindical
está orientando as entidades filiadas a adotar
medidas que evitem prejudicar os trabalhadores. Entre
as ações, estão não homologar
rescisões em caso de demissões coletivas
e exigir as causas para dispensas individuais.
“Os
sindicatos não vão aceitar abrir mão
de seus direitos neste momento. Há algumas alternativas
na legislação que podemos discutir, mas
não agora. Daqui a um mês, talvez possamos
falar sobre essa questão das alternativas que
já estão na CLT”, afirma o presidente
da Força, Paulo Pereira da Silva.
A
nota da central destaca ainda que os trabalhadores não
devem permitir que setores do empresariado usem as incertezas
da economia e a crise “para justificar a retirada
de direitos adquiridos dos empregados, cortes de benefícios,
provocar demissões imotivadas e dificultar negociações
salariais”.
Um
levantamento feito pela Força Sindical mostra
que somente da Vale, entre empregados diretos e indiretos,
4.700 foram demitidos nos últimos meses.
Proteção
a emprego e renda
Ao
participar da abertura da Cúpula do Mercosul,
na Costa do Sauípe (BA), o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse que os países do bloco devem
se preocupar em manter o emprego e a renda de seus trabalhadores
durante a crise financeira mundial. “Essa é
a preocupação central que todos devem
ter”, afirmou o presidente. Segundo Lula, os parceiros
do Mercosul devem discutir de forma ampliada com os
países da América Latina e o Caribe formas
de combater conjuntamente os efeitos da crise. A ampliação
da oferta de crédito para as empresas da América
Latina também foi discutida no encontro.