‘Não
tenho mais o que fazer’, diz Dilma sobre
royalties
Por:
Deborah Berlinck
MOSCOU
— A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta
quinta-feira em Moscou que, ao vetar artigos do
projeto que muda as regras de divisão dos
royalties do petróleo, esgotou tudo o que
poderia fazer nesta questão. Sem as emendas,
os estados produtores, como o Rio, sairão
prejudicados. Mas Dilma disse que agora, tudo
o que pode fazer, é esperar a decisão
do Congresso. Na quarta-feira, a maioria dos deputados
e senadores votou pelo regime de urgência
na apreciação do veto da presidente
Dilma Rousseff ao texto que redistribuía
os recursos e causava perdas para os estados produtores.
A apreciação definitiva sobre a
questão poderá ocorrer já
na próxima semana.
—
Eu estou aqui, o Congresso está lá.
Já fiz todos os pleitos, o maior deles,
foi vetar. Não tenho mais o que fazer!
Não tem nenhum gesto meu mais forte do
que o veto. O resto seria impossível —
disse Dilma.
Diante
da insistência de jornalistas, sobre se
ela pretendia fazer gestões junto à
base aliada no Congresso para manter os vetos,
ela afirmou :
—
Não vou impedir que ninguém vote
de acordo com sua consciência.
É
uma crise para o governo? — perguntou um
jornalista:
—
Olha, eu acho que vocês (jornalistas) adoram
a palavra crise. Tudo vocês veem crise.
Não tem crise, o funcionamento da democracia
é assim. Eu sou de uma época…quando
era bem mais nova do que sou hoje, em que tudo
no Brasil virava crise. Mas um tipo de crise com
consequências mais graves: a gente ia para
a cadeia.
Dilma
insistiu que o Brasil é um país
democrático e que as pessoas precisam conviver
com as diferenças
—
Nada disso pode resultar em crise. Este é
o funcionamento normal da democracia num país
avançado — disse.
A
presidente voltou a defender que o dinheiro dos
royalties sejam utilizados para investimentos
na educação.
—
Que nós tenhamos um compromisso com a educação
no Brasil. O recurso do petróleo é
um recurso finito. Tudo o que nós ganharmos
do petróleo temos que deixar para a riqueza
mais permanente, que é a educação
que cada um carrega.
Brasil
tenta remover embargo russo às importações
de carne
Sob
um frio de 12 graus negativos, a presidente Dilma
Rousseff iniciou na tarde desta quinta-feira sua
primeira visita oficial à Rússia
com uma pendência persistente na relação
dos dois países para resolver: o embargo
dos russos às importações
de carne de três grandes estados produtores
– Rio Grande do Sul, Paraná e Mato
Grosso – que se arrasta desde junho de 2011,
por questões sanitárias. Carne é
o principal produto de exportação
do Brasil para a Rússia.
O
primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, iniciou
seu encontro com Dilma dando as boas vindas e
dizendo que estava pronto a resolver “problemas”:
—
O relacionamento entre Brasil e Rússia
está no auge. Temos vários bons
projetos. Mas isso não significa que está
tudo resolvido. Temos problemas para resolver
e o governo da Rússia está aberto
para resolver todas estas questões —
garantiu o primeiro-ministro.
Medvedev
vai ao Brasil em fevereiro e Dilma aproveitou
para convidá-lo a esticar a visita e ficar
para assistir o carnaval. Por enquanto, foi o
único acordo anunciado: Medvedev aceitou
o convite para o carnaval. Mas Dilma afirmou :
—
O primeiro-ministro Medvedev me disse que teremos
um resultado positivo. Não me comunicou
qual a decisão final, mas considera que
os produtores brasileiros tomaram todas as medidas
e teremos um resultado positivo no final.
Já
Antonio Patriota, ministro das Relações
Exteriores, afirmou apenas :
—
Estamos conversando…estamos conversando.
O
embargo da carne aos 3 estados não é
o único problema comercial com os russos.
Moscou não quer carne com ractopamina,
um aditivo alimentar que alguns produtores brasileiros
também usam. E vai exigir dos brasileiros
um certificado.
Carne
é o principal produto das venda brasileiras
para Rússia: mais de US$ 1,5 bilhões
dos US$ 4,2 que o Brasil exportou para o país
no ano passado. Inúmeras reuniões
técnicas foram feitas, muitas delas seguidas
de falsos anúncios, do lado brasileiro,
de que o assunto estaria prestes a ser resolvido.
E nada. Em março, o ministro da Agricultura,
Mendes Ribeiro Filho, saiu de uma reunião
com a ministra da Agricultura russa, Yelena Skiynnik,
afirmando que “o embargo está chegando
ao fim”.
Há
duas semanas, o secretário de Defesa Agropecuára,
Ênio Marques, chegou a anunciar o fim do
embargo depois de um encontro com o chefe do serviço
sanitário russo, Sergey Dankver. E disse
que a retomada das exportações dependia
apenas de um comunicado oficial do serviço
sanitário. Mas o comunicado nunca saiu,
nem mesmo ontem, horas antes da chegada de Dilma
e depois de mais uma reunião técnica
em Moscou.
Embraer:
de olho no vasto mercado russo
No
plano comercial, o governo tem uma ambição
bem maior: vender mais e diversificar a troca
com os russos, que hoje está restrita à
venda de commodities. A Rússia teve o maior
crescimento econômico entre os países
do G-8 (grupo de países ricos, na sua maioria),
em 2011: 4.3%. E sua classe média está
se expandindo. Na linha de frente da estratégia
de diversificação está a
Embraer, que acaba de abrir escritório
em Moscou, e vai conseguir certificação
para tentar vender seu jato regional E-190 (com
capacidade para 100 lugares). Só para obter
esta certificação, negociou-se 3
anos com os russos.
Mas
a Embraer terá que brigar por espaço
no mercado regional russo com o grupo Sukhoi,
que por sua vez luta para vender seus caças
ao Brasil e derrubar as pretensões dos
franceses de vender os caças Rafale. Este
também vai ser um tema do encontro entre
Dilma e o presidente russo Vladimir Putin, na
sexta-feira, dia do aniversário da presidente
brasileira.
O
ministro da Defesa, Celso Amorim, vai discutir
com os russos outro negócio lucrativo:
compra de material bélico. Do lado político,
Dilma e Putin vão discutir a guerra civil
na Síria, a questão entre Israel
e a Palestina, além da situação
no Norte da África, em particular, as turbulências
no Egito. Além de Amorim, integram a comitiva
da presidente os ministros Antonio Patriota, das
Relações Exteriores, Aloizio Mercadante,
da Educação, Fernando Pimentel,
da Indústria e Comércio, além
da presidente da Petrobrás, Maria das Graças
Foster, e o assessor especial de relações
internacionais da Presidência, Marco Aurélio
Garcia.