Lindbergh
e Molon vão ao STF para impedir votação
do veto dos royalties
O senador e o deputado entraram com mandados
de segurança para anular o decreto de urgência
Por:
Carolina Mazzi e Luiz Orlando Carneiro
O
senador Lindbergh Farias (PT/RJ) e o deputado
Alessandro Molon (PT-RJ) entraram nesta quinta-feira
(13) com mandados de segurança para anular
a sessão do Congresso Nacional que decretou
urgência na apreciação do
veto da presidente Dilma Roussef em relação
as regras de distribuição dos royalties
de petróleo.
Com
isto, tentam impedir que os congressistas apreciem
o veto na próxima terça-feira e
remetem a questão para depois do recesso
de final de ano, isto é, em fevereiro.
Aprovada
a urgência nesta quarta-feira (12) por ampla
maioria dos votos (408 contra 91 congressistas),
a apreciação do veto deste projeto
vai furar a fila e deve acontecer já na
próxima terça (18), na frente dos
3060 vetos presidenciais que também aguardam
apreciação.
O
senador, que entrou com o mandado na noite de
quarta, alega que não cabe pedido de urgência
para analisar vetos presidenciais, de acordo com
o artigo 66 da Constituição. Na
manhã desta quinta (13), Molon também
protocolou no Supremo um pedido de liminar buscando
a nulidade da sessão do Congresso. Para
ele, a votação é “inconstitucional”,
uma vez que desrespeitou os Regimentos das Casas
Legislativas, ao ser apreciado em uma sessão
de cuja pauta não constava a discussão
do veto.
A
decisão de Lindbergh foi tomada depois
de uma reunião entre ele e o governador
do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que também
se manifestou sobre o assunto. Para Cabral, o
que aconteceu no Congresso, foi "surpreendente".
"Houve
algo que é inusitado na história
do Congresso desde a redemocratização
do Brasil, desde 1988, com a nova Constituição.
Se fizerem uma pesquisa, eu acredito que nunca
antes um veto, em menos de um mês, tenha
sido incluído na pauta do Congresso Nacional.
Deve ter lá 1.500 ou 2.000 vetos para serem
votados. E, de repente, um veto, em menos de um
mês, tem solicitada sua inclusão
na pauta".
Rolo
compressor
No
mandado de segurança (MS 31816) ajuizado
pelo deputado federal Alessandro Molon (PT/RJ),
ele afirma que o bloco majoritário do Congresso
formou um “rolo compressor”, e que
é necessário proteger as “minorias
parlamentares”. Segundo o parlamentar, que
representa os estados produtores de petróleo,
os procedimentos adotados pela deputada Rose de
Freitas (PMDB-ES), que presidiu a sessão,
ignoraram o devido processo legislativo ao descumprir
dispositivos constitucionais e regras do Regimento
Comum do Congresso Nacional sobre a análise
de vetos pelo parlamento.
De
acordo com deputado, esse Regimento Comum exige
a constituição de uma comissão
mista para discutir previamente o veto, antes
de ser levado ao plenário, o que não
aconteceu. Acrescenta que a Constituição
Federal, por sua vez, não prevê a
análise de vetos em regime de urgência,
exigindo que sejam apreciados no prazo de 30 dias
(parágrafo 4ª do artigo 66). Caso
isso não ocorra, a Constituição
determina o trancamento da pauta, com a inclusão
imediata do veto na ordem do dia da sessão
imediata (parágrafo 6º do artigo 66).
“É
fato notório que esse prazo tem sido reiteradamente
descumprido”, concorda o parlamentar. Porém,
ele adverte que “não é minimamente
razoável que os vetos possam ser apreciados
de forma aleatória ou voluntarista”.
Para ele, foi adotado um “procedimento casuístico”
na análise do veto sobre os royalties do
pré-sal. “O Congresso não
pode escolher deliberar um veto específico
em inusitado regime de urgência, antes mesmo
do decurso do prazo constitucional (de 30 dias)
a ele referente”.
O
parlamentar registra ainda que a mesa diretora
do Congresso aprovou o regime de urgência
para análise do veto sem que a matéria
sequer constasse da pauta do dia e adotou regra
do Regimento Interno da Câmara para liberar
a análise, afastando “as regras que
tratam especificamente da apreciação
dos vetos, inseridas no Regimento Comum”.
O
senador Lindbergh Farias (PT/RJ) e o deputado
federal Leonardo Picciani (PMDB/RJ), autores do
MS 31814 reforçam os mesmos argumentos,
e destacam que há no Congresso Nacional
3.205 vetos pendentes de apreciação
na ordem do dia, dos quais 3.060 já foram
lidos e estão aptos a serem votados. Alguns
deles aguardam votação há
mais de dez anos. “Pinçar um desses
vetos – um dos últimos, diga-se de
passagem – e submetê-lo a votação
colegiada é medida que fere não
só a ordem de precedência como, também,
o princípio da razoabilidade”, sustentam.
Para
os parlamentares, nada justifica a medida “senão
um verdadeiro ‘bullying federativo’
que vem sendo suportado pelos estados produtores
na matéria em questão". Eles
argumentam que a maioria do Legislativo federal
pretende “fazer valer a sua vontade nem
que, para isso, preceitos constitucionais sejam
violados”.
Além
de liminar para impedir que o Congresso realize
sessão conjunta nos próximos dias
para apreciar o veto da presidenta Dilma, Alessandro
Molon pede que o Supremo determine que a matéria
seja analisada em comissão mista, para
ser votada somente após a apreciação
de todos os vetos que estão com o prazo
de deliberação vencido. Alternativamente,
requer que a análise do veto relativo à
mudança de distribuição de
royalties do petróleo ao menos ocorra após
os 30 dias previstos na Constituição
ou após a deliberação sobre
os demais vetos constantes na sessão legislativa.
Lindbergh
Farias e Leonardo Picciani também pedem
liminarmente a suspensão do exame do veto
e, no mérito, a anulação
da sessão do Congresso que aprovou o requerimento
de urgência.