Marco
Maia anuncia que votação dos 3 mil vetos fica
para 2013
Congresso
não vai votar neste ano mais nenhuma matéria,
inclusive o Orçamento e o veto da redistribuição
dos royalties
Por: Fernanda Krakovics, Chico de Gois, Danilo
Fariello e Maria Lima
BRASÍLIA
— Diante do impasse criado entre estados produtores
e não produtores de petróleo, a análise
dos 3.060 vetos presidenciais, que estava marcada para esta
quarta-feira, foi adiada para o ano que vem. E em reação
ao que considerou uma ingerência do Supremo Tribunal
Federal (STF) no Legislativo, o Congresso entrou em uma
espécie de greve e também deixou para fevereiro
a votação do Orçamento da União
para 2013.
O
anúncio foi feito pelo presidente da Câmara,
deputado Marco Maia (PT-RS), depois de uma reunião
com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
—
Marcamos uma sessão para 5 de fevereiro para apreciar
os vetos. A decisão é de não fazer
nenhuma votação no Congresso até que
seja superado esse impasse dos vetos. E é uma decisão
política.
Não
há clima para votar qualquer outra matéria.
Acho que não há vencedores nem derrotados.
Esperamos que todos tenham espírito público
e esse debate seja feito da forma mais equilibrada possível
— afirmou Marco Maia.
Senadores
de estados não produtores interessados na redistribuição
dos royalties, mas indignados com a manobra liderada pelo
presidente do Senado, de burlar a liminar do ministro Luiz
Fux com a votação dos vetos em bloco, foram
hoje a tribuna para protestar e alertar que a reação
do Congresso está transformando o embate em "anarquia
legislativa".
—
O que se quis foi armar uma votação fictícia
apenas para fazer um estelionato à decisão
do Supremo Tribunal Federal. Não podemos agir como
Maquiavel, como um príncipe déspota que faz
tudo para manter o poder. Onde já se viu votar 3.060
vetos em horas? Isso é uma anarquia legislativa.
A porta da barbárie é bem ali.
O
dano que estamos provocando ao Legislativo nem nós
podemos prever. Depois da porta arrombada, não adianta
reclamar — discursou o senador Pedro Taques.
—
Não tenho como não dizer que vossa excelência
está coberta de razão. Todos os 3.060 vetos
seriam derrubados menos os royalties? Sem ninguém
estar sabendo o que está votando? Não poderia
me calar — apoiou o senador Paulo Paim (PT-RS).
No
mesmo sentido o senador João Alberto Capiberibe (PSB-AP)
chamou a atenção para o absurdo da cédula
463 páginas, divulgada na véspera e já
marcada. Ele lembrou que o Supremo deu uma resposta a uma
provocação do Parlamento, e o Congresso deu
uma resposta precipitada.
—
Dizem que o Mundo se acaba na sexta-feira, mas com essa
sessão, o fim poderia ser adiantado. Não imaginava
que pudéssemos agir com tamanha improvisação
- reclamou Capiberibe, lamentando o agravamento da crise
do Legislativo com o Judiciário.
Outros
senadores, como Ana Rita (PT-ES) igualmente mostraram preocupação
com a "vulgarização" da atuação
do Legislativo na construção democrática.
Mais
cedo, líderes partidários procuraram José
Sarney, em busca de uma saída para a análise
dos vetos presidenciais pelo Congresso, após a liminar
do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF),
anulando a aprovação do requerimento de urgência
para a apreciação desses vetos antes dos demais.
Fux
concordou com o argumento dos parlamentares fluminenses,
de que os vetos têm de ser analisados em ordem cronológica
e há mais de 3 mil deles na fila. Os líderes
levam a Sarney uma proposta de consulta ao STF sobre como
proceder na análise dos vetos.
As
bancadas do Rio e do Espírito Santo queriam que fosse
cumprido o regimento interno, que diz que cada veto pode
ser discutido por seis deputados e quatro senadores. Esses
3.060 vetos estão agrupados em 205 itens. Se fosse
levado em consideração o regimento, os 205
itens seriam debatidos por 2.050 oradores.
—
Vamos discutir veto a veto. A sessão vai durar vários
dias. Vamos varar a noite aqui — afirmou o senador
Lindbergh Farias (PT-RJ)
Seria
uma forma de obstruir a votação.
—
Vou discutir com eles se estão dispostos a permanecer
dias aqui para apreciar cada veto — disse Rose de
Freitas.
O
clima na reunião de líderes foi de total divergência:
—
Parece audiência de família para discutir pensão
alimentícia — afirmou o deputado Hugo Leal
(PSC-RJ).
Alguns
parlamentares alegaram que a liminar concedida por Fux impedia
qualquer votação — e não apenas
de vetos. Depois que a sessão da manhã foi
encerrada, o deputado Fábio Ramalho (PV-MG), saiu
gritando que a vice-presidente do Congresso, Rose de Freitas
(PMDB-ES), havia dado um golpe nos parlamentares, porque
não seria possível apreciar os vetos.
—
Ela deu um golpe na gente. Deu o golpe — gritou.
As
urnas que haviam sido dispostas no plenário da Câmara
para votação dos foram recolhidas.
Rose
de Freitas abriu a sessão do Congresso às
13h22 e a suspendeu logo em seguida para combinar procedimentos
com líderes partidários.
Para
o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), a maioria queria passar
um rolo compressor. Ele criticou a postura de José
Sarney.
—
Ele (Sarney) está tomando chá com os imortais
na ABL (Academia Brasileira de Letras) e nós estamos
nos matando. Nenhum dos congressistas conhece 10% dos vetos.
O fim do mundo começou nesta quarta-feira aqui no
Congresso Nacional.
Recurso
do Senado deve ser avaliado pelo plenário do STF,
diz Joaquim Barbosa
Além
dessa movimentação para limpar a fila de vetos
e poder chegar aos da lei dos royalties, o Senado também
age no Supremo para tentar invalidar a decisão do
STF e manter a votação em regime de urgência,
sem ser preciso analisar os vetos anteriores. Sarney protocolou
na tarde de ontem pedido de reconsideração
da decisão do ministro do Supremo. Nesse caso, o
eventual julgamento do recurso só poderá ocorrer
em fevereiro, após o recesso da Corte. Como é
uma decisão monocrática (tomada por um único
juiz, no caso, Fux), um recurso contra ela só pode
ser julgado pelo plenário, explicou o presidente
da Corte, Joaquim Barbosa. O STF teve na manhã desta
quarta sua última sessão plenária do
ano, sem analisar esse caso, e só retoma seus trabalhos
efetivamente em fevereiro.
—
A decisão é monocrática. Recurso contra
decisão monocrática só pode ser julgada
pelo plenário — afirmou Joaquim, em entrevista
após o fim da última sessão do ano.
Durante
a sessão de hoje, o ministro Marco Aurélio
Mello suscitou a questão, ao dizer que está
havendo um “pseudodescompasso“ entre o Judiciário
e o Congresso.
—
Quer queiramos ou não, há um pseudodescompasso
entre o Judiciário e o Congresso, tendo em conta
dois pronunciamentos do tribunal. O primeiro relativo à
cassação dos deputados e o segundo referente
à liminar sobre alusiva à apreciação
do veto de projeto de lei referente aos royalties —
disse Marco Aurélio.
O
ministro Luiz Fux não quis comentar o assunto. Ao
sair da sessão e ser abordado pelos jornalistas presentes,
ele apenas disse:
—
Feliz ano novo e tudo de bom.
Fonte:
www.oglobo.globo.com |