Denúncia
dos Povos Indígenas Reunidos no Seminário
de Construção do Centro Referência
da Cultura dos Povos Indígenas.
Nós,
legítimos representantes dos povos indígenas
das cinco regiões do país representando
mais de 50 etnias de todo o Brasil, reunidos em
assembléia na Cidade do Rio de Janeiro para
o Seminário de Construção do
Centro de Referência da Cultura dos Povos
Indígenas, no dia 18 de dezembro de 2013,
denunciamos a violência a que fomos submetidos
por um grupo de Punks, liderados por José
Wilhame Pinto Guajajara, Arão da Providência,
Ash Ashaninka, Francisco Guarani e Paulo Apurinã
que invadiram a sala onde estavam reunidas as lideranças
indígenas e com gritos de “Aldeia Maracanã
Resiste”, adentraram o recinto aos empurrões
chamando-nos de “índios capitalistas”,
“comprados pelo governo”, “vendidos”,
“traidores da cultura indígena”
e com estas ações interromperam nossa
reunião, sem respeitar nem mesmo as lideranças
tradicionais presentes como Álvaro Tukano,
Tabata Kuikuro, Aniceto Xavante, Pirakuman Yawalapiti,
Marcos Terena, Helena Paresi, Andila Kaingang ,
Escrawen Sompré, Marcio Bororo, Patxon Metuktire,
neto e representante oficial do grande Cacique Raoni
Metuktire, entre outros grandes líderes indígenas
reunidos, impondo sua presença. Solicitados
a dialogar para informar o que eles queriam, não
surtiu efeito pois a truculência e intimidação
continuou .
Registramos também que o Dr. Mário
Miranda, representante da OAB no processo da Aldeia
Maracanã, embora presente, nada fez. A mesma
prática que implementavam dentro da Aldeia
Maracanã foi sofrida agora por todos os presentes
do Seminário, numa ação destrutiva
e que foi deliberadamente planejada para tentar
inviabilizar nosso trabalho de construção
coletiva de todos os povos indígenas.
Naquela ocasião, quando chegaram na aldeia
como apoiadores e tornaram-se moradores, passaram
a exigir que a política que construímos
ao longo de seis anos e meio para aquele espaço
fosse também elaborada por eles, com o objetivo
de descaracterizar o projeto histórico do
nosso grupo eminentemente indígena, tornando
o movimento difuso para a opinião pública
e com infiltração de outros interesses
pessoais e políticos que nada tem a ver com
a causa indígena.
Por não aceitarmos este tipo de procedimento,
passamos a ser alvo de vários tipos de violência
, como racismo, intimidação física
e discriminação em nosso próprio
espaço por pessoas que passaram a se autodenominar
índios, no que foram referendados pelos mesmos
indígenas que elencamos acima, agregados
num grupo que se intitula Aldeia Resiste.
A partir daí, fomos alvo de vários
documentos mentirosos e acusações
descabidas espalhadas pelas redes sociais e mídias
de massa sem nenhum fundamento, já que não
ocupamos aquele prédio para ficarmos num
constante confronto com os governos e sim para buscar
um diálogo construtivo com estes gestores
públicos e, finalmente, garantirmos neste
Estado do Rio de Janeiro um Centro de Referência
da Cultura dos Povos Indígenas. Portanto,
não é com brigas, gritarias e cenas
de violência como as que vimos hoje que abrimos
e praticamos diálogo com qualquer grupo.
Não aceitamos que, depois de uma longa e
árdua luta de 7 anos buscando diálogo
com os governos, qualquer grupo nos impeça
de atingir nossos objetivos que são coletivos
e de interesse de todos os Povos indígenas
do Brasil.
Prova disto é a presença das várias
lideranças indígenas tradicionais
que aceitaram nosso convite para participar deste
seminário e que nele participaram ativamente
da construção e legitimação
deste projeto que é nacional.
Se por todos estes anos defendemos que fôssemos
protagonistas de nossa própria História,
não aceitaremos que este ou qualquer grupo
nos tire este direito.
Este projeto construído e legitimado agora
por todas as lideranças reunidas neste evento,
continuará sua construção com
lideranças tradicionais de outros povos que
ainda serão convidadas a contribuir com sua
contínua construção. Este sempre
foi o nosso discurso, esta sempre foi a nossa luta:
por um projeto coletivo indígena.
Por fim, aproveitamos para pedir desculpas às
lideranças indígenas convidadas que
prontamente aceitaram nosso convite para vir contribuir
conosco neste processo de construção
do Centro de Referência dos Povos Indígenas
e foram submetidas a esta situação
constrangedora e que envergonha todos os povos indígenas
do Brasil, bem como aos demais convidados da sociedade
civil que foram impedidos de participar deste seminário.
Apesar disso, asseguramos aos povos indígenas
de todo o Brasil que este incidente só fortaleceu
nossa união e determinação
em empreender este projeto em parceria com a Secretaria
de Cultura do Estado nos termos que hoje foram discutidos
e acordados por unanimidade por todas as lideranças
indígenas presentes e que também assinam
solidariamente este documento.
ASSINARAM
ESTA CARTA DENÚNCIA AS SEGUINTES LIDERANÇAS
INDIGENAS NACIONAIS PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO
DE CONSTRUÇÃO DO CENTRO CULTURAL DOS
POVOS INDÍGENAS:
ÁLVARO TUKANO, PIRAKUMAN YAWALAPITI, TABATA
KUIKURO, ANICETO XAVANTE, PATXON METUKTIRE (neto
do cacique Raoni Metuktire Kayapó), CARLOS
TERENA, ANDILA KAINGANG, HELENA PARESI, MARCIO BORORO,
ESCRAWEN SOMPRÉ, DARCY TUPÃ GUARANI,
UBIRATAN MAIA WAPICHANA, entre outras lideranças
presentes.
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